31 de ago. de 2015


Que essa minha vontade de ir embora 
se transforme na calma 
e na paz que eu mereço.
Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio
que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
pois metade de mim é o que eu grito
mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
seja linda ainda que tristeza
que a mulher que eu amo 
seja pra sempre amada
mesmo que distante
porque metade de mim é partida
mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que falo
não sejam ouvidas como prece 
nem repetidas com fervor
apenas respeitadas como a única coisa
que resta a um homem inundado 
de sentimento porque metade de mim 
é o que ouço mas a outra metade 
é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz 
que eu mereço que essa tensão 
que me corrói por dentro
seja um dia recompensada
porque metade de mim é o que penso
e a outra metade um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste
que o convívio comigo mesmo 
se torne ao menos suportável
que o espelho reflita em meu rosto 
um doce sorriso que me lembro 
ter dado na infância
porque metade de mim é a lembrança 
do que fui e a outra metade não sei.
Que não seja preciso mais que uma simples 
alegria pra me fazer aquietar o espírito
e que o teu silêncio me fale cada vez mais
porque metade de mim é abrigo
mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta
mesmo que ela não saiba
e que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade 
pra fazê-la florescer
porque metade de mim é plateia
e a outra metade é a canção.
E que a minha loucura seja perdoada
porque metade de mim é amor
e a outra metade também.