27 de mai. de 2015


O pensamento cria e surge uma situação, uma cena ou um acontecimento. O corpo olha para o que foi criado e reage. Essa reação é o sentimento.

Obs: estou considerando propositadamente o termo “sentimento” e não “emoção” adequado para o que exponho aqui, por considerar que mesmo o sentimento, por mais suave que seja, é dependente do que acontece.

Para clarear essa ideia de que o sentimento é uma reação do corpo ao que acontece, vamos estudar o seguinte: Dizemos ter fé, mas muitas vezes isso sugere uma expectativa de que um nosso desejo seja atendido, pois sem aquilo não nos sentimos completos. A esperança de receber algo é a reação do corpo a uma situação. É o que chamamos de sentimento de fé, uma crença num pretenso sucesso.

Dizemos amar alguém, mas geralmente quando o ser nos atende satisfatoriamente por um comportamento ou aparência, mas se não for assim, o "amor" fica abalado. Conforme nos sentimos preenchidos pelo outro sentimos o que chamamos de amor, mas isso é uma reação do corpo a uma possibilidade, a uma ideia que fazemos do outro.

Dizemos sentir alegria quando algo que acontece nos deixa felizes, mas talvez se fosse diferente não sentíssemos. É uma reação do corpo a um evento.

Dizemos sentir gratidão por recebermos qualquer coisa, mas também pode haver uma dependência, o corpo tem uma reação positiva a um prêmio.

Tudo isso são sentimentos, reações ao que acontece, mas já podemos vislumbrar o Amor, a Gratidão, a Fé e a Alegria, não como sentimentos, e sim como atributos de Deus, energias que nos envolvem em dado momento nitidamente divinas, pois não precisam comparação. Assim, proponho que não “sentimos” esses atributos, mas somos envolvidos por eles, são independentes do que acontece, é a Graça. Para isso precisamos perdoar os sentimentos reativos.

Quem pensa? Isso é muito mais profundo que qualquer análise extremamente acurada pode fazer, mas quem pensa mesmo é Deus e apenas Ele, só que parece que houve um pensamento de separação... e aí temos vários NOMES para o pensador...

O que pensa, vai desde o pensador da separação, com toda a inteligência de um ser divino, porque imediatamente antes disso É Uno com o Pai, passando por todas as ideias de material e imaterial, até os pensamentos rotineiros de bom ou ruim, feio ou bonito, frio ou quente. Junte-se a isso todos os julgamentos de todas as situações. Somando ainda a isso, o que pensa usa de todos os dados chamados educação, experiência e história de vida para criar o que é COERENTE a essa bagagem. A maioria desses dados é inconsciente e por isso criamos inconscientemente.

Vamos considerar o pensador como o pequeno eu, pois é com ele que vamos conversar e que geralmente conversamos.

O que é a criação? São as cenas, as situações, as paisagens, eventos. Podemos dizer que é a matéria e ela se interage, se multiplica, se torce e retorce para dar consistência ao pensamento. É totalmente moldável. Tudo o que vemos é a criação, ilusória, entretanto. É tudo o que estimula esse pequeno eu a se entender feliz ou infeliz. São as cenas que o mundo apresenta, todas irrestritamente surgidas de um pensamento, que geralmente nos liga à forma, tirando-nos a simples percepção de Quem Somos.

“A criação é só uma resposta a um pensamento, é como um pensamento é mostrado”. O mundo é um “criado” dele. Se não houver um pensamento não há o mundo também.

O pequeno eu vive como se fosse “eu”, isto é, aquilo que percebemos de nós nesse mundo, pois não conseguimos nos desvincular das coisas que acontecem. Quem sente é o que prova na pele todas as dores, alegrias, satisfações e insatisfações e é justamente aquilo que acha que vai despertar, que acordará desse sonho ruim, que vai ser luz e que para isso basta estudar o mundo e compreendê-lo para então consertá-lo. Mas... é assim que se mantém pequeno.

O pequeno eu pensa o que não sabe e pensa junto com todo mundo, pois não há nenhum pensamento privado. Geralmente pensa pelo retorno emocional do que pensou. O sistema de pensamento dele é um círculo vicioso. Precisa de conflitos (dualidade) para sobreviver e não gostamos, mas alimentamos. É tão forte esse processo que perdemos a noção de causa e efeito, nos tornando vítimas do que acontece, nos tornamos vítimas da situação. Há muito mais o que dizer, mas se deixamos assim podemos ir ao ponto que quero mostrar que é o mais importante.

Podemos interromper esse processo: PODEMOS QUEBRAR O CÍRCULO VICIOSO PELO PERDÃO.

Pelo pensamento não dá, pois nem sabemos o que pensamos e até sabemos às vezes, mas não mudamos isso, repetimos as palavras, gestos e pensamentos indefinidamente. Nós falamos coisas que constroem o que não queremos, sem saber. Temos uma bagagem imensa de avaliações e doutrinações de tudo e faz parte desses pensamentos. É na criação ou no que acontece que estamos tentando normalmente sair do círculo vicioso e caminhar para o Céu. Mas fazemos isso buscando consertar ou buscando melhorar o mundo, mas todos percebemos que o que acontece parece ter uma personalidade própria e sempre nos surpreende, virando outra coisa com a qual não contávamos, pois não percebemos que criamos o ruim quando queremos torná-lo bom. Antes de fazer o bem, pensamos no mal.

O mundo não é para ser consertado, mas para ser pensado diferente. Então resta o que sentimos. É aqui que sugiro tentarmos alterar o que pensamos. Todo valor que damos ao que acontece o reforça e cria mais sentimentos que alimenta mais os pensamentos. Mas se perdoamos o que sentimos... podemos interromper esse fluxo e o pensamento se renova com essa nova intenção de uma vida diferente, ele se renova para melhor, não para a mesmice.

Tiramos importância do que acontece e perdoamos o que sentimos... em todos os estímulos que ocorrerem ao longo dos minutos, horas, dias...

Quando pensarmos em algo ruim, olhemos para o que sentimos e é fácil, difícil é perdoar o mal. Podemos sentir revolta, angústia, frustração, abandono, etc. e é isso que perdoamos, deixando o “algo ruim”, que é uma cena, de lado por uns instantes, pois tudo o que queremos é paz. Aliás, não queremos um bom patrão ou governo, queremos paz. Não queremos dinheiro, queremos paz, não queremos a companhia ideal, queremos paz e isso só se consegue com a eliminação dos sentimentos de conflito... e engraçado, quem está em paz, necessariamente está todo suprido de tudo, até de algo bom, só para corresponder à paz que vive e seus sentimentos são, no mínimo, suaves e gostosos...

O sentimento de conflito some com o perdão dele... o pensamento então não terá um retorno do mal que pensou e fica livre para pensar outra coisa. Nós reconhecemos claramente as situações e lhes damos valores, reconhecemos nossos sentimentos e os deixamos voltar aos pensamentos e é aqui que vamos trabalhar.

Vamos perdoar o que sentimos, irrestritamente, seguidamente, sistematicamente e depois veremos resultados impossíveis, segundo o pensamento do que não conseguia pensar outra coisa que a desgraça.

Se uma separação é boa, é essa, vamos separar o que sentimos do que acontece. O que sentimos pode ser dissipado pelo perdão, e o que acontece muda conforme pensamos. Eis então uma possibilidade, uma experiência que podemos fazer, a experiência do milagre...

Perdoamos o que sentimos para interromper uma eterna criação do ruim e assim permitimos o milagre de uma vida nova. Ainda que estejam presentes os pensamentos viciados, sua criação não tirará nosso sossego, pois perdoando o que sentimos, estamos envolvidos em gratidão.

O próximo passo da gratidão é a alegria...

Uma alegria sem explicação, sem expressão muitas vezes, mas poderosa o suficiente para tornar o mundo e a nossa incompreensão das coisas sem peso, sem força de nos governar. Sendo todo sentimento uma reação do corpo ao acontece, necessita correção, precisa perdão, pois por mais positivo que seja, haverá outro sentimento oposto que provocará conflito.

Exemplos do que sentimos que podemos perdoar:

Obs. Não estou tentando amenizar ou simplificar as situações, pois ao nível do pequeno eu, toda a verdade de alguém está no que ele diz sentir. Mesmo porque, nesse nível, basta dizer algo para se tornar aquilo que diz, por isso é bom cuidar das palavras. Quase não respeitamos isso por querer impor ao outro a nossa “lógica” de que aquilo é "psicológico" ou que basta tomar o remédio pra sarar. Esquecemos que toda cura ocorre apenas no pensamento e que por isso mesmo não é simples.

Medos

Irmãos passam a vida toda sentindo dores, porque tem medo de que algo venha a doer. Perdoar o medo de sentir dor. Vivem na miséria, com medo de faltar. Perdoar o sentimento de carência. Vivem escondidos com medo de se expor, com medo de não ser nada. Perdoar o sentimento de menos valia. Vivem negando os próprios processos, com medo de eles serem verdade. Perdoar o sentir medo do que é. Vivem infelizes com medo da tristeza, etc. etc. e etc.

Perdoar o sentir medo.

Desafetos
(o que sentimos por alguém)

Ódio por uma agressão.
Perdoar o ódio que sente.

Decepção por uma falha.
Perdoar o sentimento de decepção.

Dó por não corresponder.
Perdoar o sentimento de dó.

Medo por nos sentirmos fracos.
Perdoar o sentir fraco.
Etc.

E não esqueçamos que enquanto o sentimento é uma reação ao que acontece, todas as doenças surgem da permanência nesses sentimentos. Então finalmente:

Quero lhes propor uma experiência. A experiência do milagre. Sabemos o que é um milagre...

Vamos imaginar uma agressão pessoal para exemplificar essa experiência. Uma violência física ou moral, uma invasão de nosso espaço ou uma injustiça. Agora vamos aproveitar a oportunidade e permitir um milagre. Alguém me agrediu e estou sentindo raiva, estou decepcionado e injustiçado. O que fazer? Olho para a minha raiva e me perdoo de sentir raiva, olho para minha decepção e me perdoo por estar decepcionado, olho para meus sentimentos de revolta e me perdoo por sentir aquilo. Mas e a agressão? Não sei o que é e me recuso a explicá-la, é uma agressão, só isso. Se perdoo meus sentimentos, acontece o milagre, pois a agressão realmente deixa de ter significado, já que, pelo perdão, não sinto mais aquilo. A cena que pedia vingança, não pede mais, ficou sem sentido. Aconteceu um milagre, não sou mais alguém agredido. Esse é um exemplo "comigo", um milagre pra mim, mas podemos oferecer milagre ao outro. Vejamos como: imaginemos alguém doente, e com dores...

O que eu sinto vendo aquilo?
Tristeza? Amargura? Piedade?

Olho para esses meus sentimentos e "me" perdoo por sentir isso, perdoo a minha perda de alegria. Mas e o irmão sofrido? Agora, tendo perdoado meus sentimentos, estou livre para oferecer a ele tudo, tudo o que é bom pra ele, e não para receber da cena um estímulo para me identificar com a forma.

O milagre, vocês mesmos vão observar. Ele vai acontecer à medida que esse perdão se torna cada vez mais verdadeiro. Isso pode ser aplicado em tudo o que nos provocar um sentimento de conflito. Paremos um pouco para observar o que estamos sentindo. Vamos olhar para o que está acontecendo e ver como reagimos a isso... 

São muitas as oportunidades de perdoar.

Grato...

por Wagner Salviano

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