Existe uma religião invisível...
sem templos edificados, sem homens consagrados,
sem ritos à cumprir...
Existe uma religião marginal...
assim mesmo, à margem do trivial,
à margem do aceitável, na sarjeta das devoções aplaudidas...
Uma religião sem dogmas, sem credo nem cartilha.
Religião dessacralizada, maltrapilha...
Fé que escorre na chuva, no pranto, na rua...
Fé que envolve minha alma e tua.
Que pia nos telhados, sopra e desmancha o penteado,
se esgueira feito gato, nos olhando...
Ressabiado.
Fé que acolhe sem perguntas, sem obsessão pelo pecado.
Que brota da terra, perfumando e quebrando os ódios...
Que é toda só amor, sem culpas, sem tribunais.
Fé que quem descobre ter, parece ter endoidado...
Vê Deus em tudo, em todos, em cada centímetro desse traçado...
Esse traçado tão longo, tão puro e tão desvirtuado...
Que é a vida, esse caminho sagrado.
Que não se trilha sozinho...
E se tem que ser compartilhado, que seja na paz.
Religião sem prosélitos, flor que brota sem se aguar.
Fruto do bem divino, estendida a quem queira pegar.
Religião sem santo...
Sua doutrina aprendi, cantando no hinários dos grilos...
Nos ais da jornada de gente cansada...
Que ainda se arrisca a perceber encanto!
Na mão que afaga, ungida de compaixão...
É o cuidar, o simples cuidar. É isso, essa tal religião.
(Giovanna Stadnicki)