A memória de nossos machucados inibe nossa ação e determina uma temporalidade de recolhimento. Isto deve ser respeitado. O trauma muitas vezes pode ser tão forte que não conseguimos nos reconhecer para além da dor e do medo por um bom tempo.
Se não cuidamos, podemos cair em abismos internos que atravessam nossa história, adentram nossas dores silenciadas em profundidades onde nem mais a voz pode ser gerada e ouvida, e onde a expressão da dor revolve em agonia o estômago.
A internalização da dor pode retroceder o desejo a um vazio perigoso, que nossa consciência muitas vezes assume como desejo de morte. Com tudo e apesar de tudo, vivemos e morremos no mundo e não em vida para ele.
Aqueles que constroem carapaças sobre dores profundas não as deixam passar, provocando assim sofrimento. O tempo as potencializa, tornando-as agentes na passividade, tendo somente a interioridade como lugar de expressão. Estas pessoas com desejo comprometido necessitam de asseguramento e um ambiente acolhedor e amoroso para se entregarem.
A dor acolhida e integrada na expressão se encontra disponível para se relacionar e se transformar como um valor. Nossas dores muitas vezes são os nossos maiores tesouros.
Mauro Buhler
Mauro Buhler é Terapeuta, criador do Círculo Aletheia e integrante da tradição do Beija-flor, ensina um caminho de cura e consciência que celebra a vida. Atende no Rio de Janeiro e ensina em processos de formação de consciência, cursos e workshops em todo Brasil.