19 de jul. de 2014

Quem sou eu?

Segundo o sábio indiano Ramana Maharshi, 
repetir essa pergunta é o caminho 
para que o indivíduo encontre 
a sua natureza, 
que é a própria felicidade.
 

Bhagavan Sri Ramana Maharshi (1879-1950) é um santo nascido no sul da Índia. Aos 16 anos, teve uma experiência espiritual que o levou ao monte sagrado Arunachala. Ali, permaneceu anos em silêncio. “Quem sou eu?” é uma compilação de respostas que ele deu a um discípulo acerca do seu ensinamento fundamental: a autoinvestigação. Seu ashram, ao pé do Arunachala, recebe milhares de devotos de diversos países. 

O corpo físico, eu não sou. Os cinco órgãos cognitivos dos sentidos, eu não sou. Os órgãos da fala, locomoção, compreensão, excreção e procriação, eu não sou. Não sou nem mesmo a mente que pensa; tampouco a ignorância, que só tem impressões residuais. Depois de negar tudo o que foi mencionado, dizendo ‘isso não, isso não’, a consciência que permanece é o que eu sou. Quando o mundo, que é aquilo que se vê, for removido, então se dará a realização do Ser, que é aquele que vê.
Observador e objeto são como a corda que parece uma serpente. Assim como o conhecimento da corda, que é substrato (essência), não se produzirá enquanto não desaparecer o falso conhecimento da serpente ilusória, não se obterá a realização do Ser, que é substrato, até que se elimine a crença de que o mundo é real. Quando a mente, que é a causa de todo o conhecimento e de todas as ações, se aquietar, o mundo desaparecerá. O que se chama de mente é um poder prodigioso que reside no Ser. Faz com que surjam os pensamentos. Sem pensamentos, não há nada que se possa chamar de mente. Portanto, o próprio pensamento é a natureza da mente. À parte dos pensamentos, não há uma entidade independente chamada mundo.

No sono profundo, não existem pensamentos e não existe mundo. Já nos estados de vigília e quando se sonha, existem pensamentos e também um mundo. Da mesma maneira que a aranha gera o foi da teia, tirando-o de si mesma e voltando a recolhê-lo dentro de si, a mente projeta o mundo de si mesma e de novo o reabsorve. O pensamento ‘Quem sou eu?’ destruirá todos os outros pensamentos e, tal como no fim se queima a vara usada para atear o fogo na pira funerária, finalmente, ele também se destruirá. Então, surgirá a realização do Ser. Quando surgem outros pensamentos, não se deve persegui-los, e sim perguntar-se: ‘A quem ocorreram?’. Não importa quantos pensamentos surjam; à medida que eles aparecem, é preciso perguntar-se com diligência: ‘A quem ocorreu este pensamento?’. A resposta que aparecerá será: ‘A mim’. Se, na sequência, a pessoa se pergunta: ‘Quem sou eu?’, a mente regressará à sua fonte, e o pensamento que havia surgido se aquietará. Com a contínua repetição dessa prática, a mente desenvolverá a grande habilidade de permanecer em sua fonte.

A felicidade é a própria natureza do Ser; a felicidade e o Ser não são diferentes. Não há felicidade em nenhum objeto do mundo. Na nossa ignorância, imaginamos que obtemos a felicidade a partir dos objetos. Quando a mente se exterioriza, experimentamos o sofrimento. Quando seus desejos estão satisfeitos, ela volta ao seu lugar próprio e se regozija na felicidade que é o Ser. A mente se move sem descanso, alternando entre sair do Ser e voltar a ele. Embaixo da árvore, a sombra é agradável; fora dela, ao ar livre, o calor é abrasador. Quem esteve caminhando sob o sol se sente refrescado quando chega à sombra. Aquele que segue indo da sombra ao sol e vice-versa é um tolo. Um sábio permanece constantemente na sombra.”