24 de jan. de 2014


"Quantas vezes, em horas de quietude,
Anseio por uma vida de luz e de paz,
Uma vida de harmonia, segurança, felicidade!
Quantas vezes entrevejo, ao longe,
Um reino de beatitude e de amor,
A acenar-me suavemente!...
E, nesses momentos de quietude dinâmica,
Eu me sinto assaz forte
Para superar todos os óbices
E romper caminho através dos impossíveis.

Mas... após dias, semanas e meses,
Desfalecem-me as forças...
Tudo em derredor é deserto árido...
Fastidiosa monotonia...
Cinzento areal...
Triste mediocridade...
E tão fácil começar,
Tão difícil continuar,
Dificílimo terminar...
E, perdendo de vista os longínquos páramos,
Eu me conformo novamente
Com a velha e cômoda rotina
Da vida horizontal de sempre...

Se todos assim vivem e vegetam,
Por que deveria eu ser uma exceção?
Não é isto tentação do meu lúcifer de dentro?
Querer ser herói e super-homem?...
E o meu velho egoísmo acomodatício
Doura de virtude a minha covardia...
Minha alma, porém, insatisfeita,
Continua a clamar pela luz,
Continua a ansiar pela paz imperturbável...

Todas as minhas teses e teorias
Por mais verdadeiras e boas,
São como fogo pintado, artisticamente pintado
Na tela do meu ego...
Fogo fictício, sem luz nem calor...
Importa que sobre mim desabem
Dilúvios de dores,
Oceanos de decepções,
Para que a fria inércia do meu fogo fictício
Se converta na ardente dinâmica de um fogo real!

Por isto, Senhor, não te peço que me poupes
Dores e decepções,
Rogo-te apenas as ponhas a serviço
Da minha cristificação,
Para que eu me realize plenamente
Em Cristo!...
Que eu seja crucificado, morto e sepultado,
E ressuscite para uma vida nova,
Vida liberta dessas pequenas e grandes misérias
Que ainda me prendem a uma zona que não é minha...
Vida liberta, finalmente,
Desses ídolos e fetiches
Do meu velho ego...
Realizado em mim
A nova creatura."

(Huberto Rohden)