2 de nov. de 2013


LIBERDADE DE MENTIRA

- Maria Augusta Christo de Gouvêa -

Seu  primeiro vagido
foi um grito de liberdade.
Seu primeiro prazer
foi o seio de sua mãe
de capitoso néctar de vida.
Vive inocente a dormir
sem ver a sombra que o envolve.
O seio farto secou.
O bebê agora menino
descobre que a comida é escassa.
Na virada do tempo
descobre a fome
descobre a rua
encontra a dor.
Condenado inocente
por quem o devia proteger
aprende ir à forra
passando a tirar o que pode
de quem dele tudo tirou.
Do berço quente, a saudade,
no papelão sujo na calçada.
No estômago vazio o grito
é sufocado pela ilusão 
da mortífera droga.
Condenado a ser ninguém,
perdido o sonho da liberdade
que lhe prometia a vida,
sem a força de um vagido
deixa-se levar para a morte.