5 de out. de 2013

HÁ UM CENTRO MUITO INTERIOR EM TODOS NÓS
        
         As grandes portas do antigo monastério foram se fechando lentamente, rodando em seus fortes gonzos de cobre polido. O aspirante acompanhava com ar resoluto de quem realmente sabia o que o esperava. Havia se preparado com determinada eficácia durante os três meses anteriores, para aquele estágio de interiorização e de recolhimento.
         O solstício de inverno iniciava-se para aquele hemisfério, indicando que os dias que se aproximavam seriam de pouca luz; portanto, a natureza se preparava para seu longo sono invernal.
         Foi o Abade do Mosteiro quem veio receber o aspirante. Era um homem forte e alto, com semblante sério, que inspirava respeito e confiança.
         - Então, meu jovem - disse o Abade com ar amistoso - está preparado para a próxima jornada? Serão três meses de intenso trabalho e de estudo.
         - Espero que sim – respondeu o aspirante, despertando de suas cogitações internas -, é meu sincero desejo uma obediente estadia e perfeita adaptação ao excelso acolhimento deste maravilhoso templo, como primeiro passo na senda evolutiva. No ciclo anterior, o propósito da humildade e a devoção foram o meu principal objetivo e todo o empenho foi direcionado para este momento.
         - É preciso determinação e perseverança – exclamou o Abade, contente com a resposta que recebeu – isso implica em muita responsabilidade futura. Muitos têm batido às nossas portas, pedindo acesso, porém despreparados que estão, ao primeiro encontro com as próprias obrigações, desistem. Muitos nunca avançam além das fronteiras da personalidade. É importante recordar, de início, que somente um apelo da alma deve vos trazer aqui. O caminho do conhecimento não tolera especulações.
         O som harmonioso do campanário ecoou por todo o grande pátio, lembrando que chegara a hora da oração matinal. Os protocolos do monastério eram repletos de atividades de organização, de respeito e de agradecimento pelas dádivas que enriqueciam grandemente a vida daquelas almas.
         Os três meses que se sucederam foram direcionados ao caminho do conhecimento e às qualificações essenciais de recolhimento, de concentração e de meditação surpreendentes, totalmente adequados ao nível de consciência do aspirante.
         Assim, passando esse período, a hora de partir se fez presente. O tempo se escoara rapidamente como um vento repentino que passa, incitando a folhagem das árvores, deixando em seu rastro as folhas amareladas pelo tempo que se soltaram. As grandes portas do Templo iriam se abrir novamente e o Abade veio ter com o aspirante para suas últimas palavras.
         - Espero que o estágio tenha sido proveitoso – disse o Abade, satisfeito com o aproveitamento que o aspirante atingira nos três meses de estadia no Monastério. O esforço e a dedicação são a luz que abre nossos caminhos, na densa penumbra que encobre nossa insistente miopia espiritual.
         - Não sei como agradecer tanto acolhimento – respondeu o aspirante, dissimulando a tristeza e já imaginando quando poderia retornar – desejava ver a claridade do conhecimento e recebi a luz irradiante do amor.
         - O propósito de estarmos nestes planos superiores - disse o Abade, percebendo os pensamentos do aspirante - é o contato com a alma, essência divina que habita cada interior. Muitos ainda não encontraram a trilha que os poderia trazer aqui. As emoções e os pensamentos, filhos da personalidade, precisam ser coordenados por essa Luz para elevarem-se, assim, o ser alcançará a compreensão dos ciclos da vida, que constroem as rotas que o levará ao Universo de seu próprio mundo interior.
- Qual será meu próximo ciclo? – perguntou o aspirante, tentando vislumbrar o que o aguardava.
- Tudo o que foi aprendido nesse estágio – respondeu o Abade sempre solícito – deverá agora ser um estímulo à renascença. O ser que foi caldeado pelo recolhimento e pela meditação neste ciclo deverá, diante da chama do conhecimento adquirido, despertar para uma nova vida no ciclo vindouro. Como pode perceber, a evolução da Criação se faz através de ciclos, que são incontáveis. Raros são aqueles que deixam essa verdade interior permeá-los, mas, mesmo assim, a realidade se expressa através dos vários níveis de consciência, permitindo que o sol brilhe para todos.
- Senhor, - perguntou o aspirante sabendo que o momento de partir chegara - como poderia eu expressar essa realidade no novo ciclo que me aguarda?
- O Abade olhou sério para o aspirante e respondeu:
- Sê, tu mesmo, a própria expressão da Luz Daquele que te criou.
Não temas diante de obstáculos; essa Luz te guiará, segue confiante.
Une-te e compartilha com a dor dos necessitados.
Lembra sempre, tuas atitudes serão reconhecidas por teus irmãos como exemplos a seguir e tu serás responsável por tudo que criares.
E se o mundo lá fora não te compreender, mesmo assim, agradece sempre pela dádiva de auxiliar, enquanto muitos suplicam.
O aspirante sorveu a energia das palavras do Abade, deixando que permeasse sua alma. Cada sentença, cada palavra foram completamente assimiladas no recôndito da consciência.
Os grandes portões do templo começaram a se abrir, uma luz radiosa inundou o pátio de um amarelo ouro magnífico. O sol despontava no horizonte, indicando que o Equinócio da primavera mais uma vez permeava a Terra, trazendo renascimento e esperança. Um novo ciclo da vida acabava de se anunciar...
         Do Templo do Cristal em DAVHANA - EFRAIM       
         Canal: José R. Gomes –
         Equinócio da primavera de 2013