3 de jan. de 2013


Eu te peço perdão por te amar de repente
embora o meu amor
seja uma velha canção nos teus ouvidos
das horas que passei à sombra dos teus gestos
bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
das noites que vivi acalentado
pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
trago a doçura dos que aceitam melancolicamente
e posso te dizer que o grande afeto que te deixo
não traz o exaspero das lágrimas
nem a fascinação das promessas
nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
é um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
e só te pede que te repouses quieta, muito quieta
e deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora.

(Vinícius de Moraes)