4 de dez. de 2012

De dentro de uma semente
 rasgou, certo dia, uma planta...
Ainda era muito cedo para brotar...
Mas era melhor o frio externo 
do que suportar a casca que lhe sufocava
O vento lhe queimava a pele, 
e o sol forte quase não a deixava respirar
A terra onde nasceu era seca, 
e as pedras impediam que criasse raízes
Mas as raízes insistiam em crescer, 
e apodreciam porque no solo não conseguia se fixar...
Suas folhas pequeninas 
não sobreviviam muito além de alguns dias... 
logo secavam e caiam por terra...
E a planta se deixou levar ao vento,
 na esperança de encontrar solo fértil...
Areias quentes, alagados, solo infestado de raízes velhas
Em algum lugar precisava encontrar terra, 
onde pudesse florescer
Mas na terra não houve um só canto 
onde pudesse fixar suas raízes
E numa estranha mutação 
a planta aprendeu a se nutrir do vento
E se acostumou a ver suas folhas caírem
 por terra, e frutos nunca ter...
Por muito tempo viajou por mundos
 ignotos e conheceu seus costumes
Por muitos mundos ela passou sem ser notada...
Por outros deixou suas folhas secas nutrindo a terra...
Seu sonho era ser como as outras plantas, 
criar raízes, florescer, frutificar...
Um dia um jardineiro a recolheu num vaso,
 e ali regou suas raízes
E ela cresceu e floresceu, sentia-se viva e feliz
E por uma vez sentiu o calor da terra
Sentiu suas raízes crescerem, sentiu 
pela primeira vez sua natureza de planta
Todo o seu ser lhe foi grato, como se na vida toda
 estivesse esperando por este momento
O jardineiro lhe deu o precioso momento de ser...
E a planta nunca esquecerá do jardineiro...
Porque mesmo por pouco tempo,
A lembrança de ser planta, de ser cuidada 
e de ter raízes na terra ficará para sempre
E agora ameaça o vento a lhe arrancar 
do vaso numa noite dessas
E de novo lhe levar pelo ar para estranhas terras
E novamente ela terá que aprender a se nutrir do ar
Mas por onde for ela levará a lembrança 
de que um dia foi planta e teve terra...
E a imagem do jardineiro a regar seu vaso...

♥  ♥