1 de set. de 2012

Amor


Quando o amor o chamar 

Segui-o
Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados
E quando ele vos envolver com suas asas
Cedei-lhe
Embora a espada oculta na sua plumagem possa feri-vos
E quando ele vos falar
Acreditai nele
Embora a sua voz possa despedaçar vossos sonhos 
como o vento devasta o jardim
Pois da mesma forma que o amor vos coroa, 
assim ele vos crucifica
E da mesma forma que contribui 
para o vosso crescimento
Trabalha para vossa poda
E da mesma forma que alcança vossa altura 
e acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol
Assim também desce até vossas raízes e a sacode
no seu apego à terra
Como feixes de trigo ele vos aperta junto ao seu coração
Ele vos debulha para expor a vossa nudez
Ele vos peneira para libertar-vos das palhas
Ele vos mói até extrema brancura
Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis
Então ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma
no pão místico do banquete divino
Todas essas coisas o amor operará em vós para que
 conheçais os segredos de vossos corações
E com esse conhecimento vos convertais no pão místico
do banquete divino
Todavia se no vosso temor procurardes somente
a paz do amor, o gozo do amor
Então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez, 
abandonásseis a ira do amor
Para entrar num mundo sem estações onde rireis, 
mas não todos os vossos risos
E chorareis, mas não todas as vossas lágrimas
O amor nada dá, se não de si próprio
E nada recebe, se não de si próprio
O amor não possui nem se deixa possuir
Pois o amor basta-se a si mesmo
Quando um de vós ama, que não diga 
'Deus está no meu coração'
Mas que diga antes 
'Eu estou no coração de Deus'
E não imagineis que possais dirigir o curso do amor
 pois o amor, se vos achar dignos, 
determinará ele próprio vosso curso
O amor não tem outro desejo se não o de atingir
a sua plenitude
Se contudo amardes e precisardes ter desejos
Sejam estes os vossos desejos
De vos diluirdes no amor e serdes como um riacho
 que canta sua melodia para a noite
De conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada
De ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor
E de sangrardes de boa vontade e com alegria
De acordardes na aurora com o coração alado
 e agradecerdes por um novo dia de amor
De descansardes ao meio-dia e meditardes 
sobre o êxtase do amor
De voltardes pra casa à noite com gratidão
E de adormecerdes com uma prece no coração
 para o bem-amado
E nos lábios uma canção de bem-aventurança.

 KHALIL GIBRAN