Atire a primeira flor
Quando tudo parecer caminhar errado,
seja você a tentar o primeiro passo certo.
Se tudo parecer escuro, se nada puder ser visto,
acenda você a primeira luz, traga para a treva,
você primeiro, a pequena lâmpada.
Quando todos estiverem chorando,
tente você o primeiro sorriso;
talvez não na forma de lábios sorridentes,
mas na de um coração que compreenda,
de braços que confortem.
Se a vida inteira for um imenso não,
não pare você na busca do primeiro sim,
ao qual tudo de positivo deverá seguir-se.
Quando ninguém souber coisa alguma,
e você souber um pouquinho,
seja o primeiro a ensinar,
começando por aprender você mesmo,
corrigindo-se a si mesmo.
Quando alguém estiver angustiado à procura,
consulte bem o que se passa,
talvez seja em busca de você mesmo
que este seu irmão esteja.
Daí, portanto, o seu deve ser o primeiro a aparecer,
o primeiro a mostrar-se, primeiro que pode ser o único e,
mais sério ainda, talvez o último.
Quando a terra estiver seca,
que sua mão seja a primeira a regá-la.
Quando a flor se sufocar na urze e no espinho,
que sua mão seja a primeira a separar o joio,
a arrancar a praga, a afagar a pétala, a acariciar a flor.
Se a porta estiver fechada,
de você venha a primeira chave.
Se o vento sopra frio,
que o calor de sua lareira seja
a primeira proteção e primeiro abrigo.
Se o pão for apenas massa e não estiver cozido,
seja você o primeiro forno para transformá-lo em alimento.
Não atire a primeira pedra em quem erra;
de acusadores o mundo está cheio; nem, por outro lado,
aplauda o erro; dentro em pouco,
a ovação será ensurdecedora.
Ofereça sua mão primeiro para levantar quem caiu;
sua atenção primeiro para aquele que foi esquecido.
Seja você o primeiro para aquele que não tem ninguém.
Quando tudo for espinho, atire a primeira flor.
Seja o primeiro a mostrar que há caminho de volta,
compreendendo que o perdão regenera, que a compreensão edifica,
que o auxílio possibilita, que o entendimento reconstrói.
Atire você, quando tudo for pedra, a primeira e decisiva flor.