24 de mar. de 2012

Drogas - Que fazer?

“Quem salva uma vida salva a humanidade.
A guerra contra as drogas exige a participação de todos.”

(Anthony Wong, um dos maiores especialistas brasileiros em toxicologia,
assessor da OMS (Organização Mundial de Saúde)


Numa esquina qualquer, de uma cracolândia qualquer, de uma cidade brasileira qualquer, um jovem acende um cachimbo de crack. O flagelo da epidemia do crack, o vício praticamente no primeiro consumo, e a irreversibilidade da doença neuropsíquica que ele promove.

Farrapos humanos, poucos são os que conseguirão se adaptar novamente à sociedade, ao trabalho, ao estudo, sem apresentar sequelas na vida. Nenhuma vida se repete. Cada vez que uma vida é perdida, é a Humanidade quem perde. Não é preciso ser nenhum especialista em segurança pública para constatar a crescente oferta de drogas, que circulam livres nos mais diversos ambientes sociais, e em todos os recantos do país. A epidemia de drogas que vivenciamos é um fracasso individual, da família, ou da nossa sociedade?

Mãos estendidas, a venda a céu aberto às onze da manhã, numa esquina qualquer, de uma cidade brasileira qualquer. E diante do completo despreparo do Estado em vigiar nossas fronteiras esguarnecidas, a droga produzida na Colômbia, Bolívia, Peru e Paraguai encontra nas ruas das cidades brasileiras um fértil e crescente mercado.

O “nível elevado de vulnerabilidade” das nossas fronteiras, conforme as palavras do senhor Ministro, milhares de milhares de brasileiros viciados, tenham fácil e pleno acesso ao objeto de seu vício.

Hoje, aos 12 anos de idade, a menina do outro lado da vidraça precisará da força de um gigante para superar um presente de degradação, um futuro de incertezas, e tentar reverter seu infeliz destino. Quantas infâncias ainda haverão de ser interrompidas, quantas vidas ainda haverão de ser ceifadas, quantas famílias arruinadas?

Antes que acordemos para a necessidade de unirmos forças e agirmos conjuntamente contra este mal que acomete a nossa sociedade?

Que sociedade é esta que construímos, tão pobre em educação, e tão repleta de valores desvirtuados?



É preciso entender que a epidemia das drogas é apenas um sintoma de que nossa sociedade encontra-se gravemente doente.

A única maneira de vencermos a guerra contra as drogas é combatendo não somente o tráfico, mas, principalmente, as causas dos desvalores que solapam as bases éticas
e morais da nossa sociedade. Somente conseguiremos reverter a situação quando começarmos a combater as causas e não tão somente os sintomas.

Prevenir é sempre mais sensato e eficiente do que tentar remediar.

A televisão aberta, por ser
uma concessão pública, deveria, de acordo com a lei, pautar-se numa programação com finalidade educativa, artística, cultural e informativa. No entanto, infelizmente, a televisão brasileira, preocupada unicamente com seus lucros, enterrou a educação, a arte e a cultura, disseminando tão somente a mediocridade.

Vejamos o exemplo do programa Big Brother, que, segundo o subprocurador-geral da República, Aurélio Rios, “é um grande desserviço e serve muito à deseducação. Não estimula a criação, o princípio de solidariedade, os valores éticos da pessoa e da família”. Invadindo milhões de lares e mentes em horário nobre... BBB, A Fazenda,
Mulheres Ricas, Zorra Total... em horário nobre da televisão brasileira.

Como foi que permitimos chegar a este ponto?
Até quando haveremos de tolerar tamanha afronta?
“Não deixe de bisbilhotar a futilidade!”
“Salve, salve a mediocridade!”

Ao solapar as bases éticas e morais, geração após geração, não estaria a televisão desguarnecendo os telespectadores das forças necessárias para se recusar o falso
e ilusório apelo das drogas?

“Pra que educação, arte ou cultura?”
“Vamos banalizar a existência!”

Darcy Ribeiro, um dos maiores educadores brasileiros, nos alertava:
“Enquanto num turno a escola educa, no contra-turno a televisão deseduca.
Onde haveremos de chegar assim?”



O absurdo das propagandas de cerveja, que vendem uma droga como sendo o elixir da felicidade. Artistas com fortíssimo apelo junto ao público infanto-juvenil influenciando jovens e adolescentes a beber cada vez mais, e mais cedo. Emissoras de tevê, empresários, publicitários e artistas faturando bilhões, – e quem paga a conta derradeira somos nós, a sociedade.




Cada vez que uma vida é perdida, é a Humanidade quem perde. Precisamos urgentemente repensar o absurdo dos comerciais de cerveja. Até quando
o lobby de emissoras de tevê e empresários haverá de falar mais alto do que os interesses da sociedade? Até quando motoristas alcoolizados continuarão a ceifar vidas inocentes impunemente? O inócuo e risível aviso de “aprecie com moderação”.

Enquanto não combatermos as causas estruturais que alimentam a ignorância que conduz à proliferação do uso das drogas, não haverá solução para o cenário que prevalece. Até lá, aviões continuarão a despejar fardos de cocaína. E forças policiais continuarão a ‘enxugar gelo’, prendendo cada vez mais usuários e traficantes, abarrotando mais as desumanas e degradantes prisões.

É preciso ter claro em mente que enquanto houver pessoas dispostas a usar drogas, haverá traficantes prontos para oferecer e faturar com o tráfico. Na nossa sociedade de consumo, o comércio de drogas infelizmente segue as diretrizes de demanda e oferta, conforme outra mercadoria qualquer. Precisamos problematizar o nosso atual mosaico social – tão repleto de falhas graves, que nos têm conduzido à epidemia de crack e de outras drogas.

Vejamos alguns componentes da nossa estrutura social que precisam ser discutidos
e sanados, caso queiramos alcançar uma sociedade inclusiva, soberana e livre: Toda a violência, desumanidade, crise, caos e confusão que nos rodeia sinaliza para
a impossibilidade de continuidade.

Somente por meio da valorização da Educação poderemos fazer frente à proliferação
das drogas, e a toda a violência e degradação dela resultantes. Uma Educação plena,
capaz de revelar a beleza e o encanto do existir. Uma Educação integral, capaz de conduzir cada pequeno brasileiro rumo à sua plenitude.

Existir é resistir. Apesar do mundo que aí está, é preciso insistir, remover tudo que impede, que trava, tudo que encobre.

Educar as futuras gerações de modo que possam resistir ao falso encanto das drogas, e evitar as amizades comprometedoras, e, ainda assim, que sejam capazes de compreender e amar aqueles que sofrem pelas drogas. Que as nossas crianças possam conduzir um país que se diz agigantar na economia mundial, também pelas veredas da justiça e do bem-estar social, e pelos caminhos da verdadeira felicidade. Que possamos deixar de lado a nossa inércia e sair da nossa zona de conforto, de modo a contribuir efetivamente com ações práticas para a realização das melhorias sociais que se encontram ao nosso alcance.

Recordar que para além da nossa família biológica, pertencemos também à família humana, – diante da qual também temos deveres e responsabilidades.

“Só a participação cidadã é capaz de mudar esse país.” (Betinho)

Um outro mundo é possível.

Projeto “Compaixão e Cidadania”
Um espaço para refletirmos sobre temas essenciais.