16 de out. de 2011

Esquecer?! Nem pensar!!!

"Quando dois silêncios se encontram, estão se falando." (Arlete Parrilha Sendra)

Naquela tarde em que o para-sempre acabou, achou que o mundo acabara também.
O vazio se misturara ao éter e puxava o tempo para trás. Estranhamente sobre os amanhãs pousava uma grande neblina, uma tênue névoa anestesiante. A grande aventura de viver perdera seu equilíbrio. Ontem, o tudo. Amanhã, o nada. Com uma réstia de lucidez rasgou Descartes. Não é verdade o isto ou aquilo. A vida é o isto e o aquilo. E pensamentos atropelavam-se em sua mente. Era preciso esquecer. Mas como fazê-lo se o passado está tatuado em nós e alimenta as diretrizes de nossa alma?

Afinal, como esquecer se comemoramos, a cada minuto, cada feito, todo desfeito?

Para que esquercer as overdoses de alegria nas conquistas do dia-a-dia em cada dia?

Po que esquecer os tsunamis de desencantos, de mágoas que exaurem as forças mas não a vontade?

Para que esquecer a intensidade do amor e a ternura compartilhadas se ambos foram intensos "enquanto duraram"?

Por que esquecer os momentos de angústia pela impotência diante da dor do amigo?

Como esquecer aquela felicidade inflada, anabolizada que deu vida a tantos momentos?

Por que esquecer nossas lágrimas se elas adubaram a terra na qual plantamos os amanhãs?

Como esquecer as emoções que, rizomaticamente, retornam, revificando-nos?

Para que esquecer a cortesia da força da bofetada que nos virou o rosto para o lado onde visualizamos o arcoíris?

Como esquecer o som e o itinerário do grito sufocado se, catarticamente, o eu foi liberado?

Para que esquecer a nostalgia dos paraísos perdidos se, arquivados na memória, os visitamos regularmente?

Por que esquecer lágrimas, lutas, rupturas, esperanças desfeitas se elas fizeram e fazem parte do script da vida?

Para que esquecer as lembranças que só a nós pertencem?

Como esquecer? Por que esquecer? Para que esquecer?

ESQUECER?! NUNCA!!!

(*) Dra Arlete Sendra é graduada em letras clássicas, mestre em Literatura Brasileira, Doutora em Literatura de Língua Portuguesa e Pós-doutorada em semiótica. Docente e pesquisadora da UENF e membro da Academia Campista de Letras.