22 de dez. de 2010

Poesia: Cantiga de esperança

Alma querida...
Por mais que o mundo te atormente
A fé simples e boa
Por mais te lance gelo na alma crente
Na sombra que atraiçoa
Alma sincera
Escuta!...
Sofre, tolera, aprende, aperfeiçoa
porque de esfera a esfera
Ninguém consegue a palma da vitória
Sem apoio na luta
Espera, que a esperança é a luz do mundo
Oculta maravilha
Que, em toda a parte, se revela e brilha
Para a glória do amor
A noite espera o dia, a flor o fruto
O espinho a rosa, o mármore o buril
O próprio solo bruto
Espera o lavrador
Armado de atenção, arado e zelo
O verme espera o sol para aquecê-lo
A fonte amiga que se desentranha
Do coração de pedra da montanha
Enquanto serve, passa e se incorpora
Aos encargos do rio que a devora
E espera descansar
Quando chegue escondida
A paz da grande vida
Que há no seio do mar
Seja o que for
Que venhas a sofrer
Abraça o lema regenerador
Do perdão por dever
Leva pacientemente o fardo que te leva
Entre o rugir do vento e o praguejar da treva
Abençoa em caminho
Os açoites da angústias em torvo redemoinho
Onde não passas, coração
E segue sem parar
Amando, restaurando, redimindo
Edificando, em suma
Não te revoltes contra coisa alguma!
Ao vir a tarde mansa
Na doce quietação crepuscular
Quando a graça do corpo tomba e finda
Verás como foi alta, nobre e linda
A ventura de esperar
E, enquanto a noite avança
Para dar-te as visões de uma alvorada nova
Nas asas da esperança
Bendirás a amargura, a dor e a prova
Agradecendo a Terra a bênção de entendê-las
Subirás, subirás
Para o ninho da luz nas estâncias da paz
Que te aguarda, tecido em radiações de estrelas!
Então, compreenderás
Que, além do mais Além
No coração da Altura
Deus trabalha, Deus sonha, Deus procura
Deus espera também!...

Maria Dolores