Escuta, coração:
Quando a mágoa te aflija
E a incompreensão te açoita, implacável e rija
Jamais te dês aos gritos da exaustão...
Revolta é furacão a sacudir
O campo, o ninho, a escola, o templo, a casa
E tudo danifica ou tudo arrasa
Quando vem a surgir...
Quando o pranto amarfanhe os teus olhos
Não mostres tuas lágrimas benditas
Aprende a recolher no campo em que transitas
Os ensinos de Deus!...
Tudo na Terra é santa aspiração
Serenamente a planta aguarda o fruto amigo
E o próprio fruto anseia estar contigo
Para a vitória humilde de ser pão...
Nasce a fonte cantando a borbulhar
De início é um fio pobre de água mansa
Mas, porque espera serve e não descansa
Desce ao bojo do rio e acha a glória do mar!...
O charco espera a mão do lavrador
E, um dia, plasma em lama lodo e estrume
Um jarro gigantesco de perfume
A enfeitar-se de flor!...
Nota que a porcelana aprimorada
Foi barro que aceitou a disciplina
A pérola mais fina
Veio na dor da ostra torturada!...
O violino que atende e se consome
Por dar à melodia apoio e desempenho
Não passava de um lenho
Na floresta sem nome!...
Detém-se coração pensando nisso:
No mundo o que há de belo, grande e santo
É persistência e esforço canto a canto
Da esperança em serviço!...
Empenha-te a servir
Aprender, construir, tolerar
Em tudo é sempre o Amor Puro e Perfeito
Porque nunca se cansa de esperar!...
Maria Dolores