É aqui que os grandes sonhadores podem perder o rumo, projetando no parceiro sentimentos que só existem neles. Os dom-juans e as prostitutas, por exemplo fingem o amor pelo prazer de seduzir. Zombam dos sentimentos e da sinceridade. Para eles, agradar é apenas um jogo em que as almas românticas acabarão queimando as asas. Mas esses são erros de iniciantes. Os feridos pelo amor desconfiam dos playboys e das mulheres fatais. Sabem identificá-los e fugir deles antes mesmo de uma primeira conversa. Eles não querem sofrer e têm toda a razão.
Amamos pouco, muito, apaixonadamente, perdidamente? É melhor ter o coração limpo desde já, antes de perseguir nossos sonhos. É interessante também saber se nossos parceiros amam o amor. O sofrimento se inicia quando um começa a sonhar com um grande amor, enquanto o outro mantém os pés no chão e se contenta com o desejo e a afeição.
O amor não idealiza os defeitos. Ele não os torna qualidades. Ele os sublima, transfigura, adora, eleva, enobrece como particularidades únicas e adoradas que não devem ser suprimidas: não seria mais ela, não seria mais ele se isso mudasse. “Não mude nunca!", dizem os apaixonados. “Prometa que será sempre assim!”. Diante dessa aceitação incondicional, os defeitos se tornam qualidades; os complexos, triunfos; as dúvidas, certezas. Criamos asas. Reconciliamo-nos com toda a Terra. Tudo parece belo e desejável e o mundo inteiro torna-se luminoso.
Eis por que é importante fazer um balanço a cada etapa da relação. Precisamos nos assegurar de que a atração é mútua para não nos decepcionar ao escutar um “não”. Precisamos nos assegurar, além disso, de que não se trata apenas de uma atração física. Podemos encontrar alguém que “mexa conosco” sem que sua personalidade nos seduza.
Não partilhamos os mesmos valores, seu modo de vida não nos seduz particularmente, não nos emociona. Apenas nossos corpos vibram no mesmo diapasão. Se, por outro lado, amamos verdadeiramente, precisamos ter certeza de que a recíproca é verdadeira, e que não embarcaremos numa via de mão única.
Mas e quando nos dizem “eu te amo”? É necessário que essa declaração também não seja mal-interpretada. Para alguns, significa somente:
“Eu te amo agora que estou em seus braços.” Precisamos ter certeza de estar sintonizados na mesma freqüência. Compreende-se agora por que a paixão às vezes, repousa sobre um engano de percepção dos sentimentos e dos projetos do amado.
do livro: Amores que nos fazem mal - Patrícia Delahaie
Editora Larousse