3 de jul. de 2010

O Caminho da Santidade


Era uma vez um homem tão piedoso que até os anjos se alegravam ao vê-lo. Mas, apesar de sua imensa santidade, não tinha disso a menor consciência. Limitava-se a cumprir suas obrigações, espalhando ao seu redor bondade, assim como as flores espalham seu perfume e as lâmpadas sua luz. Não levava em consideração o passado de ninguém, vendo apenas como se apresentavam naquele momento. Daí a sua santidade. Fixava-se muito além da aparência de cada um, na profundidade dos seres, onde todos eram inocentes e honrados, mas também demasiadamente ignorantes para saber o que faziam. Por isso amava e perdoava a todos e não acreditava que isso fosse algo extraordinário, porque essa era sua maneira de ver as pessoas. Certo dia, disse-lhe um anjo: “Deus me enviou a ti. Pede o que quer que desejes e te será concedido. Desejas, quem sabe, ter o dom de curar?...”
“Não”, disse o santo. “Preferia que fosse o próprio Deus que o fizesse.”
“Quem sabe gostarias de reconduzir os pecadores ao caminho do bem?...”, perguntou-lhe o anjo.
“Não”, respondeu. “Não é o meu papel comover os corações humanos. Isso é próprio dos anjos.”
“Preferirias ser um tal modelo de virtude que suscitasses o desejo de ser imitado?...”, continuava o anjo.
“Não”, disse o santo, “porque isso me tornaria o centro das atenções”.
“Então o que desejas?...”, perguntou novamente o anjo.
“A graça de Deus”, respondeu. “Tendo isso, nada mais desejo.”
“Não”, disse-lhe desta vez o anjo. “Tens que pedir alguma coisa. Caso não o faças, alguma te será concedida, mesmo sem tua escolha.”
“Está bem”, disse o piedoso homem. “Se assim é, desejo que o bem se realize através de mim, sem que disso me dê conta.”
Assim o Todo-Poderoso decretou que a sombra daquele santo homem curasse aqueles que por ela fossem atingidos. Desta forma, onde quer que estivesse sua sombra, qualquer pessoa, desde que atrás dele, seria curada, da mesma forma que o solo se tornaria fértil, as fontes brotariam e a alegria retornaria aos rostos dos sofredores.
No entanto, o santo homem nada sabia porque a atenção das pessoas estava de tal modo voltada para sua sombra, que se esqueciam dele. E foi assim que se cumpriu seu desejo de realizar o bem sem buscar qualquer recompensa senão a vontade e a possibilidade de servir a Deus.

Autor desconhecido (extraído do Almanaque de São Geraldo – 2001)