26 de jun. de 2010
Nascendo de novo
Às vezes somos possuídos por uma sensação de tristeza que não conseguimos controlar. Percebemos que o instante mágico daquele dia passou, e nada fizemos. Então, a vida esconde sua magia e a sua arte. Tenho que escutar a criança que fui um dia, e que ainda existe dentro de mim. Esta criança entende de instantes mágicos; podemos sufocar seu pranto, mas não podemos calar sua voz. Esta criança que fui um dia continua presente; bem-aventurados os pequeninos, porque deles é o Reino dos Céus. Se não nascer de novo, se não tornar a olhar a vida com a inocência e o entusiamo da infância, não existe mais sentido em viver. Existem muitas maneiras de se cometer suicídio; os que tentam matar o corpo ofendem a lei de Deus. Os que tentam matar a alma, também ofendem a lei de Deus, embora seu crime seja menos visível aos olhos do homem. Eu tenho que prestar atenção ao que me diz a criança que tenho guardada no peito. Não posso me sentir envergonhado por causa dela. Não posso deixar que ela tenha medo, porque está só, e quase nunca é ouvida. Preciso permitir que ela tome um pouco as rédeas de minha existância: esta criança sabe que um dia é diferente do outro. Vou fazer com que ela sinta-se de novo amada. Vou agradá-la - e mesmo que isso signifique agir de maneira a que não estou acostumado, mesmo que pareça tolice aos olhos dos outros. Preciso me lembrar que a sabedoria dos homens é loucura diante de Deus. Se escutar esta criança que carrego na minha alma, meus olhos tornarão a brilhar. Se não perder o contato com esta criança, não perderei o contato com a vida.
Paulo Coelho