27 de mai. de 2010

Página do meu diário











Sou da cor da terra, que me acolhe.
Já fui andarilho, as areias do deserto pisei.
Em muitas tendas dormi.
No Nilo lavei meu corpo e lá deixei
a poeira dos caminhos que passei.
Venho de longe e de perto,
trago comigo o certo e o incerto
guardados em mim.
Sou feita de mel, de chama e trovão.
Fogo e frio, vento e noite
forjaram-me...
Corpo forte, alma inquieta,
amores rudes, ternura velada
que só e a sós então se revela.
Meu corpo foi negro, escravo...
meu sangue à terra se misturou,
meus filhos o chicote vergastou e levou...
Fui rosa, perfumada e cobiçada,
bela e amada...
Mas em conspirações, mentiras
e em delírios de grandeza,
a alma perdi...
Transformei-me em espinho...
distribuindo dor, obstinada e cruel,
nesse caminho escuro segui.
Guerras, lanças, fileiras,
adaga em punho,
tornei ainda mais fundo meu precipício...
Conheci a dor que aos outros infligi.
Alma fraca, sem bons sentimentos,
não suportei... e o maior dos crimes cometi.
Da vida desisti...
Rolei por abismos de trevas e mais dor...
Vi e vivi todo o horror.
Um dia o Amor Maior de mim compadeceu,
me deu Sua mão, me levantou
e nova chance me deu.
Borduna e tacape me fizeram conhecer a pureza,
e na simplicidade da natureza
conheci o milagre do perfume de uma flor.
E minha alma aos poucos recuperou...
Quando em chamas ardi... enfim me encontrei.
E nessa estrada, hoje, apenas passo...
Buscando forças, para não sucumbir ao fracasso.
Sou nada... apenas aprendiz...
Quero apenas merecer um dia o perdão e... ser feliz.

Fátima Moreira - 09/08/2007