CHEGUE NA PAZ

12 de fev. de 2015



EDUCAR PARA A VERDADE

O primeiro de abril é uma data folclórica, mundialmente conhecida, como o “Dia da Mentira”. Uma mentirinha lúdica nesse dia cai muito bem e pode ser motivo de diversão em casa, no trabalho, ou na escola. Mas apenas em tom de BRINCADEIRA - para logo ser esclarecida – é que uma mentira pode cair bem. Na vida real, no cotidiano das pessoas, por mais dura que a verdade possa ser, ela é sempre melhor do que a mentira.

Como nas relações humanas mentir é, muitas vezes, mais fácil e mais conveniente que ser sincero, é preciso (R)EDUCAR para a verdade. O ideal é que, na família e na escola, a filosofia adotada seja orientada para os valores e para as virtudes humanas. A tarefa é árdua, pois educar e nos educarmos para a verdade é andar na contra da realidade em que vivemos.

Nosso Congresso tem se mostrado inoperante e conivente com sua tamanha vadiagem absolvendo políticos envolvidos com malandragens e mentiras. Não muito diferente essa mesma prática também é repetida em escalões menores e até próximos de cada um de nós. A mídia (em sua maioria), passa o tempo todo a idéia de que não há nada de errado em mentir, ser desonesto ou corrupto. Além do mais, quando os pais não são os primeiros a ensinar os filhos a mentir ou a exercitarem tal atitude.

Quando alguém mente, está revelando que algo dentro de si não está bem. Alguns psicólogos relacionam a atitude à baixa auto-estima ou ao ímpeto de TIRAR vantagem em detrimento do outro. Fato é que, por trás da mentira, há sempre um apelo, uma defesa, um sintoma, uma compulsão ou uma falta de caráter.

Em seu “Dicionário de Psicologia” (Ediouro, 1988), Valmir Adamor da Silva afirma: “A mentira, de modo geral, é o falseamento da verdade, utilizada como mecanismo de defesa. Principalmente, na criança, sempre que ela se vê ameaçada de sofrer algum castigo, há o recurso da mentira, a fim de se proteger. Esse ato seria uma maneira de agir conscientemente”.

Entretanto, há mentiras inconscientes, provocadas pela sugestão ou pela imaginação muito fértil e sem controle. Nesse aspecto, o psicólogo Sílvio Rabelo assim se expressa: “Há uma espécie de mentira construtiva que tem suas raízes na própria exuberância inventiva da criança. As cenas dramáticas que ela imagina, fazendo-se de principal personagem, se acham enquadradas nessa categoria de mentiras construtivas. Ainda um curioso fenômeno vem fortalecer a mentira infantil: dita, pela primeira vez, uma inverdade, esta tende a substituir a noção de verdade daí por diante, graças ao processo de auto-sugestão; assim, a mentira infantil se torna completamente despida de caráter intencional da mentira propriamente dita”.

O problema da mentira, não apenas na criança, como também no ADULTO, tem preocupado vários especialistas do comportamento humano – psicólogos, psicanalistas, educadores, criminalistas, sociólogos…, cada qual fazendo pesquisas no seu campo de trabalho, demonstrando, todos, o quanto a verdade é relativa.

Como as crianças, MUITOS adultos mentem por sugestão, medo ou…, pensando servir a uma boa causa, na defesa de alguém. A justiça está cheia de exemplos, em que juízes são levados a dar sentenças tidas muitas vezes, como injustas, porque foram mal-orientados, com depoimentos de testemunhas ingênuas, sugestionáveis, ou maldosas, além das profissionais.

O confronto com a verdade é algo que exige coragem e, por isso, às vezes, a mentira é o caminho mais fácil. No processo psicopedagógico temos a oportunidade de perceber como é duro revelar algumas verdades que a pessoa mesma adulta aprendeu a esconder ao longo do seu aprendizado. Isso gera conseqüências desastrosas para a personalidade e muito sofrimento, porque na negação não há como construir nada.

Sem o encontro com a verdade, não se constrói absolutamente nada, porque toda a criação se dá a partir da realidade. A verdade é a realidade interna da pessoa, a realidade da relação. Fora da verdade, qualquer CONSTRUÇÃO se torna malograda, fracassada, porque é montada em falsos fundamentos.

Que Deus nos guarde na palma de sua mão.

* Vilmar Serighelli é professor universitário, padre e escreve todos os domingos nesta coluna.