CHEGUE NA PAZ

26 de nov. de 2014


Esta é uma uma história sobre a separação: quando duas pessoas que se amam
tem de dizer adeus. Depois do adeus fica aquele imenso vazio: saudade. Ah! como seria bom se não houvessem despedidas! Alguns chegam a pensar em trancar em gaiolas aqueles a quem amam. Para que sejam deles para sempre... Para que não haja mais partidas... poucos sabem, entretanto, que a saudade que torna encantadas as pessoas. A saudade faz crescer o desejo. E quando o desejo cresce, preparam-se os abraços! 


Era uma vez uma menina que tinha um pássaro como seu melhor amigo. Ele era
um pássaro diferente de todos os demais: era encantado. Os pássaros comuns, se a porta da gaiola fica aberta, vão embora para nunca mais voltar. Mas o pássaro da menina voava livre e vinha quando sentia saudade... s
uas penas também eram diferentes. Mudavam de cor. Eram sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos e os lagos nos quais por onde voava. Certa vez voltou totalmente branco, cauda enorme de plumas fofas como algodão... 

"Menina, eu venho de montanhas frias e cobertas de neve. Tudo maravilhosamente branco e puro, brilhando sob a luz da lua; nada se ouvindo a não ser o barulho do vento que faz estalar o gelo que cobre os galhos das árvores. Trouxe nas minhas penas, um pouco de encanto que eu vi, como presente para você..." 

E assim ele começava a cantar as canções e as histórias daquele mundo que a menina nunca vira. Até que ela adormecia e sonhava que voava nas asas do
pássaro. Ele voltou várias vezes, e a cada dia trazia histórias e canções mais belas e misteriosas. A menina ouvia aquele pássaro e poderia ouvi-lo sem parar, dia após dia. E o pássaro a amava, por isso voltava sempre. 

Mas, a hora da tristeza chegava:
"Tenho que ir". - dizia ele.
"Por favor, não vá. Fico tão triste! Terei saudades e vou chorar..."
"Eu também terei saudades. - dizia o pássaro. Eu também vou chorar. Mas vou
lhe contar um segredo: as plantas precisam de água, nós precisamos do ar, os peixes precisam dos rios... e o meu encanto precisa de saudade. Na espera da
volta que faz com que as minhas penas fiquem bonitas. Se eu não for, não haverá saudade e deixarei de ser encantado... e você deixará de me amar." 

Assim, ele partiu. A menina, sozinha, chorava de tristeza a noite, imaginando se o pássaro voltaria. E foi numa dessas noites que ela teve uma ideia malvada: "Se eu o prender numa gaiola, ele nunca mais partirá. Será meu para sempre. Nunca mais terei saudades e ficarei feliz!" 

Com esses pensamentos, comprou uma gaiola de prata, própria para um pássaro que se ama muito. Finalmente ele chegou e cansado de viagem, adormeceu. Foi então que a menina, cuidadosamente, o prendeu na gaiola. Adormeceu feliz... foi acordar de madrugada, com o gemido do pássaro... 

"Ah! Menina... o que foi que você fez? Quebrou-se o encanto. Minhas penas
ficarão feias e eu me esquecerei das histórias... e sem saudade, o amor
irá embora..." 

A menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por se acostumar. Mas, não foi isto que aconteceu. O tempo ia passando e o pássaro ia ficando diferente: Caíram as plumas e o penacho. As cores se transformaram num cinza triste. E ele deixou de cantar... também a menina se entristeceu. Não, aquele não era o pássaro que ela amava. E de noite ela chorava, pensando naquilo que havia feito ao seu amado. Até que não aguentou, abriu a porta da gaiola. 

"Pode ir pássaro, volte quando quiser!"
"Obrigado menina, preciso partir para que a saudade chegue e eu tenha vontade de voltar. Sempre que você ficar com saudades, ficarei mais bonito. Sempre
que eu tiver saudades, você ficará mais bonita! E você se enfeitará para me
esperar." 

E partiu. A menina contava os dias e a cada dia que passava, a saudade crescia.
"Que bom, - ela dizia. O meu pássaro está ficando encantado de novo." 
E assim todos os dias ela enfeitava, esperando a sua volta. Sem que ela percebesse o mundo foi ficando encantado, com o pássaro. Porque em algum lugar ele devia estar voando, de algum lugar ele deveria voltar. 

Ah! Mundo maravilhoso que guarda em algum lugar secreto o pássaro
encantado que se ama. E foi assim que ela, a cada noite, ia para a cama triste de saudade, mas feliz com o pensamento: "quem sabe ele voltará amanhã?" E assim dormia e sonhava com a alegria do reencontro. 

Não se entristeça se precisar deixar para trás coisas ou pessoas que lhe são
caras. A vida sabiamente imita a natureza: as folhas secas das árvores caem para dar lugar as novas. Portanto nada acontece por acaso...