CHEGUE NA PAZ

21 de ago. de 2014


Numa caverna escura, onde a claridade nunca surgira, vivia um homem muito simples que implorava o socorro divino. Declarava-se o mais infeliz dos homens; não obstante, em sua cegueira moral, sentia-se o melhor de todos. Reclamava do ambiente fétido em que se encontrava. O ar pestilento o sufocava.Pedia a Deus uma porta libertadora que o conduzisse ao convívio do dia claro. Afirmava-se robusto, apto, capaz. 

Por que motivo era conservado ali, naquele insulamento doloroso, em atmosfera tão insuportável? Suas súplicas, entre a revolta e a amargura, foram percebidas por Deus que, profundamente compadecido, enviou-lhe a Fé. A sublime virtude exortou-o a confiar no futuro e a persistir na oração. O infeliz consolou-se mas, logo em seguida, voltou a lamuriar-se. Queria fugir, desistir, abandonar a vida, e como suas lágrimas aumentavam, Deus mandou-lhe a Esperança. A emissária divina afagou-lhe a fronte e falou-lhe da eternidade da vida, buscando secar-lhe o pranto desesperado. Rogou-lhe calma, resignação e fortaleza. O pobre homem pareceu melhorar, mas, decorrido algum tempo, voltou à lamentação. Comovido, o Senhor da Vida determinou que a Caridade o procurasse. A nova mensageira acariciou-o e alimentou-o.

 Endereçou-lhe palavras de carinho e amparou-o, como se fosse abnegada mãe. Todavia, o infeliz persistia gritando, revoltado. Foi então que Deus enviou-lhe a Verdade. Quando a portadora do esclarecimento se fez sentir na forma de uma grande luz, o infortunado, pela primeira vez na vida, viu-se tal qual era e apavorou-se. Seu corpo estava coberto de chagas, da cabeça aos pés. Agora, somente agora, ele percebia, espantado, que ele mesmo era o responsável pela atmosfera intolerável em que vivia. Tremeu, cambaleante, e horrorizou-se de si mesmo. Sem coragem de encarar a sublime visitante que lhe abria a porta da libertação, fugiu apavorado, em busca de outra furna onde conseguisse esconder a própria miséria que só então reconhecia.

Assim ocorre com a maioria dos homens perante a realidade. Sentem-se com direito a receber todas as bênçãos do Pai Eterno e gritam fortemente, implorando a ajuda celestial. Enquanto amparados pela fé, pela esperança ou pela caridade, consolam-se e desesperam-se, crêem e descrêem, tímidos, irritadiços e hesitantes. Quando a verdade, porém, brilha diante deles, revelando-lhes a real condição em que se encontram, costumam fugir apressados, em busca de esconderijos, nos quais possam cultivar a ilusão. Jesus disse que somente a Verdade fará livre o homem. Acostumemo-nos à sublime luz da Verdade, reconhecendo em nós mesmos as causas de nossas desditas e buscando, corajosamente, meios de alcançar, de modo definitivo, nossa libertação.

Redação do Momento Espírita