CHEGUE NA PAZ

11 de jun. de 2011

Consumismo infantil

O que significa ‘educar para a vida’?

O que significa ‘educar o olhar’?

“Os olhos têm de ser educados para que nossa alegria aumente.” Rubem Alves

O jornal Folha de São Paulo publicou o depoimento de um jovem pai, que, aflito, dizia: “A minha filha pediu um laptop da Xuxa. Ela só tem três anos e fala direitinho: ‘Laptop’. Acho que ela nem sabe o que é, mas viu na TV e
quer de qualquer jeito.” O pai afirma que já percorreu duas lojas à procura do ‘laptop da Xuxa’, mas que estavam com o estoque esgotado.

Prossegue, dizendo que irá se dirigir, apesar da forte chuva, ao shopping, pois a felicidade de sua filha depende do tal laptop. Nada mais irá satisfazê-la, e não se contentará com um laptop de brinquedo similar, quer unicamente o ‘laptop da Xuxa’. Apenas três anos de idade, e a marca do desejo já foi inscrita em sua subjetividade.

Enquanto as crianças assistem a desenhos e programas infantis, a educação para o consumo vai se instalando de forma poderosa no seu subconsciente. Como muitos pais passam longas jornadas fora de casa, e desconhecem o que os filhos veem na televisão, vamos fazer uma breve descrição do comercial do brinquedo em questão.

O comercial inicia-se com Xuxa e duas meninas sentadas ao redor de uma mesa com cadernos e lápis de colorir. Xuxa diz que vai mostrar para as duas meninas algo muito mais legal e divertido. Nesta hora, entram em cena os efeitos especiais, e uma esteira colorida leva as três até o Céu. E no Céu está o tal laptop. A esteira converte-se num gigantesco tobogã, pelo qual elas descem escorregando felizes. Reflita sobre como uma criança pequena processará tais fantasiosos efeitos visuais; e no fim do comercial, Xuxa apresenta os vários modelos e cores para se colecionar.

Trinta segundos se mostram suficientes para convencer a criança pequenina de que a felicidade reside no adquirir o produto anunciado. A esteira que conduz ao Céu. O incontido sorriso de Xuxa e das duas crianças figurantes, que mal cabem em si.

Ter = Ser Feliz

O desejo de posse e o consumismo impostos a mentes indefesas, ainda na mais tenra idade. A pedagogia do consumo, o aproveitar da imaturidade natural de uma criança pequena para convertê-la num consumidor precoce.

Gerações e gerações de crianças desenvolveram a criatividade e o gosto pela arte por meio de cadernos e lápis de colorir. E um comercial de 30 segundos consegue fazer com que a criança enxergue tal atividade como coisa do passado, e passe a almejar o objeto anunciado.

“Lápis e cadernos de colorir, que coisa mais sem graça...”
“Diversão de verdade é o meu laptop!”

A publicidade infantil se torna ainda mais cruel, desumana e desalmada quando recordamos que as crianças das famílias mais carentes encontram-se igualmente expostas à sua invasiva, massiva, desregulamentada e abusiva veiculação.

Nos países desenvolvidos, onde a Infância e a Educação são priorizadas, cuidadas e protegidas, existem leis regulamentando e restringindo a publicidade infantil. Nos Estados Unidos e na Europa, apresentadores de atrações infantis são proibidos por lei de ter sua imagem associada a qualquer produto comercial. Crianças pequenas tendem a acreditar que os adultos sempre falam a verdade. Portanto, se um adulto lhes diz que necessitam de tal coisa para serem felizes, elas aceitarão tal afirmação sem ressalvas. Ademais, uma apresentadora de programa infantil, como a Xuxa, estabelece um forte vínculo afetivo e emocional com a criança, devido às longas horas que passa com ela diariamente. Portanto, em função de tal ligação emocional, a criança pequena recebe a mensagem publicitária que a apresentadora transmite quase que como uma ordem, e ela não quer decepcionar ou trair tal vínculo afetivo.

A criança pequenina não tem a menor capacidade intelectual de compreender que por trás do comercial existem empresários, publicitários, diretores televisivos e seus milionários lucros comerciais. Para a criança pequena, o que há é apenas a Xuxa, que ela considera uma amiga, dizendo para ela que a felicidade reside no possuir tal laptop.

Algum dia, quiçá não tão distante, a exemplo dos países desenvolvidos, nossas leis também irão proibir apresentadores de programas infantis de anunciarem marcas e produtos, dentre outras medidas.

Algum dia, quiçá não tão distante, a exemplo de muitos países desenvolvidos, nós também iremos educar as nossas crianças para que sejam primeiramente cidadãos, e não meros consumidores precoces.

Fôssemos nós também um país desenvolvido, priorizando a Infância e a Educação, a apresentadora, os diretores televisivos, os publicitários e todos os demais envolvidos na criação e veiculação de um comercial como o do ‘Laptop da Xuxa’ estariam respondendo criminalmente, sujeitos a duras penas.

O que se pode esperar de uma sociedade na qual interesses comerciais se sobrepõem aos cuidados básicos com a Infância?

Que podem fazer os pais para proteger seus filhos nestes dias desleais que vivenciamos?

Vejamos alguns conselhos de educadores e especialistas em Educação:

Em ambientes com a presença de crianças menores de quatro anos, mantenha os aparelhos de TV desligados. Lembre-se de que a atenção periférica nas crianças pequenas é bastante apurada, mais até do que nos adultos. Enquanto brincam inocentemente num canto da sala, elas vão assimilando e absorvendo tudo que acontece ao seu redor. Os olhos e os ouvidos das crianças pequenas são sensíveis demais para a futilidade das novelas, as coberturas sensacionalistas dos dramas e tragédias humanas dos telejornais e a incessante torrente apelativa, abusiva e invasiva de propagandas e comerciais.

Caso, devido à corrida rotina da vida moderna, você tenha que recorrer ao babá-eletrônico para distrair crianças pequenas, dê preferência a vídeos e dvds. Como nesta fase a criança sente prazer na repetição, sendo ela parte do processo de aprendizagem, adquira alguns dvds infantis para manter em casa. Desenhos e atrações infantis são lúdicos e, vistos moderadamente, estimulam a fantasia e a criatividade. Recorrendo ao dvd, você poderá preservar seus filhos pequenos da tirania publicitária das emissoras de TV.

Recomenda-se que somente após completar quatro anos de idade a criança venha a ter contato com programas televisivos. E, mesmo assim, não mais do que por 45 minutos diários, inicialmente com a presença de um adulto, a orientá-la diante do caráter persuasivo dos comerciais.

90% do nosso aprendizado acontece entre 0–6 anos de idade, considerada a fase em que temos maior capacidade de aprendizado. A primeira infância representa um período crucial na formação do caráter, e no estabelecimento de valores e princípios que nortearão os anos vindouros.

Educadores orientam que aparelhos de TV e computadores não devem ficar no quarto das crianças, mas em salas comuns, onde os pais possam acompanhar o seu uso. Talvez o maior desafio dos tempos presentes seja:

Como educar nossas crianças para a verdadeira felicidade? Pode ser que ainda não seja tarde e possamos reverter o triste cenário que prevalece. Qual ação é mais prioritária do que o resgate do cuidado devido que a Infância merece?

“Onde há amor, há vida.” Mahatma Gandhi

Compartilhe esta mensagem com pais, futuros pais, avós, professores, educadores, diretores escolares e com todos aqueles que se preocupam com a Infância e com os caminhos da Educação.